6.02.2009

Sobre o objeto de nosso afeto

Sorte de hoje: Beleza sem virtude é como uma rosa sem fragrância

Vi isso hoje no orkut e lembrei do livro "O perfume". Foi dessas leituras que devoramos. E como que por um estalo, isso me falou direto ao coração.

Jean Baptiste Grenouille, "grenouille" de "rã" mesmo, foi um órfão, abandonado por sua mãe e por todas as amas de leite por quem passou. Isso por ter uma estranha característica: ausência de cheiro e capacidade fora do normal de sentir os odores. O plot segue com as reações mais bizarras, todos os sentimentos de um ser humano normal: interesse, raiva, ambição, paixão. Mas tudo traduzido na língua dos cheiros, através de uma enorme capacidade de senti-los.

E com isso ele começa a ter desejos fora do comum na sociedade, assim como temos todos, mas na ausência de limites que em seu caso é traduzida pela ausência de uma mãe ou família, o órfão passa a buscar satisfazê-los sem muita medida e obviamente a cometer atos imorais. Mas imorais para a sociedade, em seu mundo sensorial, tudo o que fez fazia muito sentido.

A questão é que acompanhar a história de Grenouille é como compreendê-lo, e compreendê-lo é perdoá-lo e afeiçoar-se a ele. Ele é um anti-herói, uma rã disgusting e ainda assim, o amamos e perdoamos. Grenouille é um psicopata, desses que manipulam, vivem na satisfação de seus prazeres e passam por cima da moral.

Por que será que a figura do psicopata nos atrai tanto?! Toda essa paixão, essa aparente virtude ilustrada pela enorme capacidade de sentir e manipular sentimentos através dos cheiros o envolve em uma aura de paixão, cativa. Amamos o feio, o errado, o assassino.

É por isso que não deixa de ter razão o ingênuo orkut, quando nos diz que uma rosa - e uma pessoa - sem fragrância são como beleza sem virtude, belos, atraentes, como o psicopata Grenouille, mas perigosos e por fim, tão vazios quanto.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Isso é verdadeiramente brilhante. Você escreve muito bem.