8.11.2008

A maldita da criatividade

Sou arquiteta, mas podia ter sido pior. Eu poderia ter me decepcionado e mesmo com as aulas de História II, mesmo tendo uma colega super legal (simpática, bonita, inteligente e HUMILDE) eu poderia ter largado tudo. E poderia ter ido cursar Publicidade.

Eu poderia trabalhar numa agência cool. E poderia trabalhar escrevendo coisas legais. Poderia até vender cigarro para criancinhas e nem me importar com isso, afinal, poderia simplesmente me vangloriar do meu gênio criativo e dizer “faço bem o que me mandam” (note que mesmo sendo arquiteta eu vendi cigarro para criancinhas, esse não é o problema, as criancinhas que saibam se cuidar).

Mas eu sou feliz de ter escolhido a penúltima profissão no ranking da criatividade. Eu sou feliz por não ter tido que forçar minhas energias para criar as melhores campanhas, por não acordar no meio da madrugada com o slogan vencedor dos prêmios de publicidade. Basicamente, eu sou feliz por escrever esse texto com prazer e não como obrigação, por não ter tido que industrializar a minha criatividade a ponto de torná-la menos que uma característica pessoal, arquitetos não são piores e nem fracassados e nem os últimos seres do universo por seus projetos burocráticos, mas impecáveis tecnicamente.

Essa é minha teoria sobre a publicidade. E nada a ver com “mal do mundo” ou “suicídio de adolescentes”. E ufa! É bom escrever aqui.

(E agora vou submeter o texto ao cliente)

2 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, o trauma é profundo mesmo. Depois quero pesquisar as origens dele. Mas vamos lá: acho ótimo que você goste da sua profissão como eu gosto da minha. Eu também admiro muito a arquitetura. Mesmo não tenho seguido. Só não entendi algumas coisas do seu texto.

Por que a criatividade aplicada à publicidade é mais “industrializada” do que a criatividade aplicada à arquitetura? Então o sujeito que faz a campanha de cigarro (cigarros não podem fazer mais publicidade, mas sigo o exemplo do texto) é muito diferente do sujeito que fez o projeto da fábrica de cigarros que produz milhões de maços por dia?

Você acha mesmo que os arquitetos não dedicam suas energias para encontrar a melhor solução para os seus clientes? Eles não acordam no meio da madrugada, empolgados com uma nova idéia que tiveram?

E essa história de “industrializar” a criatividade? Será que é tão ruim assim? De alguma forma, Michelangelo não “industrializou” sua criatividade quando fez a Capela Sistina para a Igreja? E o médico que “industrializa” as nossas vidas? E o advogado que “industrializa” a justiça? São melhores ou piores do que os publicitários ou arquitetos?

Um slogan nunca vai ter o mesmo valor de um Parthenon (ou Panteon?). Graças a Deus. Mas quando eu faço uma campanha de doação de sangue e vejo resultado, eu também fico feliz. Quando vejo que um cliente meu está crescendo, eu também fico feliz. Eu e as várias pessoas que vão ganhar emprego, aumento de salário, enfim, aquela demagogia toda, como conseqüência.

Quanto à obrigação de escrever, eu uso a minha criatividade de várias outras formas também: faço histórias em quadrinho, desenho livre, tenho idéias sem sentido e, acredite, de vez em quando até comento blogs de colegas simpáticas, bonitas, inteligentes e humildes (como eu).

É isso. Foi mal pelo tamanho da resposta, mas é que eu realmente gosto de escrever.

De qualquer maneira, obrigado pelo post dedicado à minha pessoa.

bjs

Anônimo disse...

E o próximo post? Vai ser sobre pena de morte, política ou religião?