9.26.2011

o copo do meu avô

Um copo largo, raso e serigrafado de amarelo com florezinhas azuis oferecido e sorridente. Dentro, um líquido dourado e duas pedras de gelo. Fora, um senhor polido, de postura rígida e com um sorriso caridoso no rosto. Foi assim a primeira vez que provei daquela bebida perfumada, com um gosto de "coisa-que-nunca-vou-gostar", e lembro que no primeiro gole senti um mal estar que não melhorou nada, nem com a infeliz tentativa de enfiar goela abaixo, sem esquecer de esfregar bem na língua para limpar as papilas gustativas, um pedaço de Pumpernickel puro.

O senhor era meu avó e a bebida era whisky. Todos os dias, meia hora antes da refeição, Pumpo preparava seu Schnaps e bebia, acompanhando minha avó em seus últimos preparativos para a singela refeição que se aproximava. Singela porque nunca a refeição na casa dos meus avós foi uma cerimônia, ou um momento especial. Era simplesmente assim, meu avô no aperitivo, minha avó no fogão, os pratos dispostos sobre a mesa e os dois naquele diálogo Mags du? Mags du? E eu repetindo com um risinho de quem acha que está falando algo inteligente "maxtuuu, maxtuuu".

Recentemente, fucei o armário atrás de um copo digno para beber e oferecer uma dose de whisky à minha visita. Encontrei lá no fundo o copo amarelo. Senti saudades do meu avô e dos seus olhos verdes carinhosos.


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2 comentários:

Adriano C. disse...

Rá. Grande Lo, de volta à ativa e em grande estilo.

Dos que recordo, este está fácil entre os melhores posts do blog.

De que servem os cursos de criatividade perto de nossas memórias mais íntimas..?

Beijos

Lo disse...

Larguei o curso, beibe, e voltei.