10.25.2009

Sobre âncoras e experiências religiosas

(Warning: this quote may contain too much fantasizing, much more than acceptable)

O Japão sempre foi pra mim a personificação da distância. E a distância tem um quê de libertador.

Explico-me.

Aqui eu sou Eu. Esse Eu que construí nos últimos quase 30 anos. Esse Eu que tem uma família, um círculo de amigos, uma conduta irreparável, ou quase, hehe. E viver aqui é certamente muito bom, faço coisas legais, conheço pessoas e lugares legais... mas estou sempre presa dentro do meu próprio corpo e das experiências que já dizem respeito a essa pessoa que eu já sou.

Imagino andar por Tokyo e ver todas aquelas cenas que vemos em filmes. E conhecer aquelas cidades em que a paz e a religião moram naqueles templos cuja arquitetura nos é tão exótica. E entender como essa gente pôde edificar sua cidade e sua vida baseados em crenças às quais não partilhamos, e conhecer uma gente para quem toda a história do mundo ocidental não determina toda a sua arquitetura e nem mesmo a construção de seu caráter. Gosto de tentar entender a relação dos japoneses com os animais, longe dessa nossa visão ultrapredadora, como eles parecem lidar com eles desse jeito ingênuo. Queria assistir um kabuki e entender qual a graça, porque homem vestido de mulher pra mim só faz sentido numa comédia ou num carnaval...

Tenho a impressão de que no Japão as experiências seriam tão novas e incríveis que diante delas eu decididamente não poderia reagir como a mesma pessoa, e isso faria de mim alguém novo, e me libertaria dos limites do meu corpo. Quase uma experiência religiosa mesmo. É, é isso. É difícil desamarrar a âncora, mas de agora em diante acho que quero experiências religiosas...


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2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom. De onde você tira essas ideias?

Lo disse...

Alguém tem que ter idéias na cabeça, né?