5.04.2009

Amo, logo existo.

Quando eu era pequena, pensava coisas verdadeiramente absurdas. A cada notícia de uma morte acidental ocasionada por uma queda de uma árvore no interior de parnapiassuseiláoquê, eu me intrigava com a necessidade de se documentar tão insignificante notícia. Mas mais do que isso, eu simplesmente não entendia como as pessoas poderiam se preocupar com uma morte, já que havia bilhões de pessoas no mundo, e milhões de pessoas no Brasil, e milhão no nosso estado e milhares na cidade e... por aí vai.

O tempo passou e eu entendi um pouquinho melhor. Ainda bem que não foi perdendo meu cãozinho nem minha tartaruguinha, e sim ganhando amiguinhos, brincando, conhecendo gente, ou seja, amando o suficiente para não perder e não perdendo o suficiente para amar.

Daí veio o segundo "pããã": por que as grávidas sofrem pela perda de algo que elas nem contavam existir há tão poucos meses, um pedacinho de matéria desprovido de autonomia como ser, algo que poderia ser refeito (sem considerar as dificuldades de fertilidade) tão facilmente?

O tempo passou e eu entendi um pouquinho melhor. Não foi perdendo um bebê, mas entendendo a dinâmica das relações familiares, do amor, da expectativa sobre a chegada de um filho como um novo membro e da necessidade de controle que temos sobre os planos que fazemos, para que sejam idealmente bem sucedidos. Mas até aí, uma grávida impedida de sair da cama sob cuidados médicos era só uma mulher barriguda e apavorada recebendo um tratamento especial.

Então, uma amiga em uma situação de estabilidade aparentemente adversa engravida e ao contrário do que a maioria das pessoas poderia supor, converte-se em pura energia rosa e lilás de tão radiante que fica, e toda e qualquer notícia que dela se tem, põe você num estado de graça, e você chega a achar que contos de fadas existem, embora minha mãe nunca tenha lido para mim nenhuma historinha em que uma princesa engravidasse (talvez simbolizassem isso no "e eles foram felizes para sempre..."), o fato é que isso realmente me encheu de alegria alheia (ê sentimento bom!).

Alguns dias depois, o que já era lilás e rosa fica dourado e pisca e roda e toca música, e você mal cabe em si, pois ela descobre que as alegrias serão em dobro, são gêmeos! E aí vêm as observações, e os cuidados médicos, e o repouso... e então ela escreve isso:

"Agradeço imensamente às manifestações de carinho e apoio de todos vcs. Eu sou extremamente paparicada pela vida por ter me rodeado de tanta energia boa.
Infelizmente um dos meus brotinhos resolveu não vir agora. Se despediu de mim com o coraçãozinho ainda batendo.
Mas o outro tá com a mulésta! E mais do que nunca, dando sentido à minha vida.
That´s it. A gente vive de semear e sepultar sonhos. E o medo de sonhar é uma estúpida ilusão de proteção.

Abraço forte em todos!"

E eu percebo que estou triste. E depois feliz pelo "brotinho" que ficou, e por ela, e pelo pai, etc. E releio o trecho em que ela fala em "sepultar sonhos, e no medo de sonhar"... está lindo, e sim, sim, ela tá certa, a vida é aceitar vitórias e derrotas, e penso que eu sou extremamente feliz por ser capaz de me emocionar, por amar, por sofrer, e concluo, sem muita expectativa de estar sendo original sob qualquer aspecto, que é exatamente isso que nos faz nos sentirmos vivos.

2 comentários:

Unknown disse...

Poxa, Lo, que bonito! Eu adorei. Meio brega o que eu vou dizer, mas confesso que fiquei tocada com seu texto.

Sobre as palavras da sua amiga, quase nem tenho o que falar. Estão tão cheias de... Emoções. No plural mesmo, pq não é só uma. São múltiplas. Mas se eu tivesse que reduzir pra duas, diria que é tristeza, pelo "brotinho" que se foi, e felicidade, pelo "brotinho" que ficou.

Irônico como duas emoções tão opostas podem se unir tão harmoniosamente. Como Yin e Yang. Apenas um dos mil mistérios do mundo das emoções.

Muito bom.

Carina disse...

Concordo com vc, Lo. Sem amor a vida não é nada. não tem cor, nem cheiro, nem gosto. tem q ter amor, nem que seja pela nossa fabulosa vida de solteiras ;)

beijos, mônica.

mônica.